segunda-feira, 4 de junho de 2012

Análise de "A Triste Partida"


Luiz Gonzaga apesar de sua fama mundial, não deixou de aclamar sua terra natal, Exu, mas precisamente no povoado do Araripe. Está localizado no Sertão do Ceará, lugar que enfrenta constante seca.É através de suas canções que ele mostra o que sofreu e a luta de seus conterrâneos, um exemplo é “A Triste Partida”, considerada também um cordel autobiográfico.
Nas primeiras estrofes ele fala da falta de chuva e suas consequências: “Meu Deus/Assim fala o pobre/Do seco Nordeste/Com medo da peste/Da fome feroz”. Nesse trecho vê-se a súplica do eu lírico a Deus.A partir de agora se vê as crenças nordestinas: “A treze do mês/Ele fez experiência/Perdeu sua crença/Nas pedras de sal”. Esse trecho retrata o ritual que é feito no dia 13/12, Dia de Santa Luzia, onde os nordestinos colocam seis pedras de sal ao relento, representando os meses de Janeiro à Junho, e as que derreteram, serão os meses que irão chover.
Mas no verão daquele ano não choveu. “Porém barra não veio/O Sol bem vermeio/ Nasceu muito além”. Invés da chuva, o nascer do sol, que de tão quente era vermelho. Também se percebe a variedade linguística (“vermeio”), que pode ser encontrada ao longo da música.   Nas estrofes seguintes é possível ver o folclore do povo nordestino: “Na copa da mata/Buzina a cigarra”, os nordestinos dizem que quando a cigarra canta é sinal de chuva.
   O eu lírico continua a representar as crendices nordestinas: “Apela pra Março/ Que é o mês preferido/ Do Santo querido/ Sinhô São José.” Isto se fere ao dia 19/03, pois se chover não terá estiagem e a colheita será próspera. Mas a chuva não vem e ele diz: “Lhe foge do peito/o resto da fé”.
   É então que o autor faz o anúncio de que a solução é ir embora, o êxodo rural. ”Eu vendo meu burro/Meu jegue e o cavalo/ Nóis vamos a São Paulo.” Vão embora em busca de dias melhores, assim como fez Luiz Gonzaga, mas em circunstâncias diferentes.No trecho “A seca terrívi/Que tudo devora/Ai, lhe bota pra fora/Da terra natal”, é algo que acontece frequentemente. O desfecho se dá com a família “presa” naquele estado, sem poder voltar, pois estão em divida: “Mas nunca ele pode/Só vive devendo/E assim vai sofrendo/É sofrer sem parar.”


Gisela Guerra

5 comentários:

  1. Muito bem, Gostei da interpretação da música,e dos elementos característicos dos diferentes dialetos do povo nordestino isso irá me auxiliar no desenvolvimento da minha resenha, sobre o assunto.
    Obrigado pelo belo trabalho.

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  2. Não trata-se de uma letra autobigrafica de Luiz Gonzaga. na verdade a letra e de Patativa do Assaré. Luiz Gonzaga musicou e propôs a Patativa que fosse registrada como parceria dos dois o que foi recusado por Pataiva.
    fica o regsitro.
    Seu nome de registro era Antônio Gonçalves da Silva, o agricultor e poeta que ficou conhecido de norte a sul do Brasil como “Patativa do Assaré”, nascido em Assaré/CE em 5 de março de 1909 e falecido no mesmo lugar em 8 de julho de 2002, aos 93 anos.

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  3. ersos originais de Patativa:
    “Em riba do carro
    Se junta a famia;
    Chegou o triste dia,
    Já vai viajá.
    A seca terrive
    Que tudo devora,
    Lhe bota pra fora
    Da terra natá.”

    Versão de Luiz Gonzaga:
    “Em um caminhão
    Ele joga a famia
    Chegou o triste dia
    Já vai viajar
    Meu Deus, meu Deus,
    A seca terrível
    Que tudo devora
    Lhe bota pra fora
    Da terra natal”

    Versos originais de Patativa:
    “O carro já corre
    No topo da serra.
    Oiando pra terra
    Seu berço, seu lá,
    Aquele nortista
    Partindo de pena,
    De longe inda acena:
    Adeus, Ceará!”

    Versão de Luiz Gonzaga:
    “O carro já corre
    No topo da serra
    Oiando pra terra
    Seu berço, seu lar
    Meu Deus, meu Deus
    Aquele nortista
    Partido de pena
    De longe inda acena
    Adeus meu lugar
    Ai, ai, ai, ai.”

    Versos originais de Patativa:
    “Chegaro em são Palo
    Sem cobre, quebrado.
    O pobre, acanhado,
    Percura um patrão.
    Só vê cara estranha
    Da mais feia gente,
    Tudo é diferente
    Do caro torrão.”

    Versão de Luiz Gonzaga:
    “Chegaram em São Paulo
    Sem cobre, quebrado
    E o pobre acanhado
    Procura um patrão
    Meu Deus, meu Deus,
    Só vê cara estranha
    De estranha gente
    Tudo é diferente
    Do caro torrão
    Ai, ai, ai, ai.”

    Versos originais de Patativa:
    “Trabaia dois ano
    Três ano e mais ano,
    E sempre no prano
    De um dia inda vim.
    Mas nunca ele pode
    só veve devendo,
    E assim vai sofrendo
    Tormento sem fim.”

    Versão de Luiz Gonzaga:
    “Trabaia dois ano
    Três ano e mais anos
    E sempre nos prano
    De um dia vortar
    Meu Deus, meu Deus
    Mas nunca ele pode
    Só vive devendo
    E assim vai sofrendo
    É sofrer sem parar
    Ai, ai, ai, ai”

    Versos originais de Patativa:
    “Distante da terra
    Tão seca, mas boa
    Exposto à garoa,
    À lama e ao paú,
    Faz pena o nortista
    Tão forte, tão bravo,
    Vivê como escravo
    Nas terra do Su.”

    Versão de Luiz Gonzaga:
    “Distante da terra
    Tão seca, mas boa
    Exposto à garoa
    A lama e o paul,
    Meu Deus, meu Deus
    Faz pena o nortista
    Tão forte, tão bravo
    Viver como escravo
    No Norte e no Sul
    Ai, ai, ai, ai.”

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  4. Muito bem, Jerdivan Nóbrega, seu esclarecimento foi muito importante para que as pessoas saibam que os compositores às vezes são esquecidos, no caso Patativa do Assaré é o autor e Luiz Gonzaga apenas musicou e gravou.

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  5. Muito bem, Jerdivan Nóbrega, seu esclarecimento foi muito importante para que as pessoas saibam que os compositores às vezes são esquecidos, no caso Patativa do Assaré é o autor e Luiz Gonzaga apenas musicou e gravou.

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